sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

3º edição de Outros poetas com Rita Indiana Hernández


 

O projeto Outros Poetas visa um primeiro contato com a produção de um(a) poeta através da declamação de um ou mais poemas e uma breve visão biográfica. 

Nesta terceira edição: Rita Indiana Hernández.

Declamação: Alexandre Paulino



Testemunho

Eu sou a única que vira
o embrião do apocalipse
que na cabeça da ponte
como um grafite
que representa, me ungira
e desbaratara.
afundara a espada fluorescente
batizado com aço inoperante.
Sou a tua mamãezinha, aeromoça,
miss da paixão de um cristo rei.
a noção de lazer mais profundo.

A cegonha magra masca chiclete
a estrategistas de pé chato
aquela que sou e serei
for ever, ande ver a mortalmente infectada
de concursos televisados,
carnavais do terceiro mundo buscando a verdade
nos esgotos da nobreza da capital.
nas patinhas abastadas das baratas dos
salões de beleza.

A noite me encontrando solenemente desfeita,
As juntas quebradas de bater portas
E as bordas dos guindastes que levantam falos
Da cidade até o céu.
A profecia anunciara que eu viria combater
A carcoma de gordos semanais
E lápides como sois que derrubam
As cabeças das pessoas como frutas
Golpeadas por um martelo os cachorros da rua
Esses que são o meu domínio
Sujos como as marquises de naco
Sabiam da minha vinda há séculos
Eu sou a mãe.
Vagabundos no inconsciente, trujilhistas,
Meus rebentos.
Sou aquela que enfia o dedo até a ferida.
Sou a ferida aberta desde os setentas
Na cara pálida de Cidade Trujillo
Sou a fera de pelúcia Sou o saco plástico e o verme que procura
Sou o solitário flamboyant que acolhe
Os necessitados
Machões que dão a bunda por um refresco de guaraná.

Essa é a verdade
Sou a vela que abre caminho
A cadela vilã levantada em quatro patas de cimento
A mulher que não serei
Sou uma coisa muito minha
Será possível que ninguém entenda esta solidão?
Venham
Me enterrem completa na estrada
Onde mil fungos esbranquiçados
Agasalharam minhas nádegas
Nanimortas pela magia
Esta magia, mãe das crianças que como eu
Deambulam a noite dominicana
Rarefeitos pela droga
Que o coco secreta quando tem lua cheia
Venham comam do meu corpo
Antes do tempo.
Passar com seu gillette que é um túmulo
E me calculem os pirralhos
Que viriam depois de mim
Olhando com olhinhos uma foto desbotada
Do meu presente
Glória em pampers
Venham
tragam perfume, febres.

Esquimós tenho alojadas na carne do meu espelho
A cidade montará nas minhas costas
E seremos uma Coisa só,
Minha Golden Bárbara Bendita.
Golden doce baby bitch.
Golden carro da sorte Knorr
Golden destino do inoperante
Golden e bendito dom Manuel Del Cabral,
Louco andando nu,
Perseguindo um verso.
Choremos como eu choraria neste caso
E depois uma oração
E depois uma visão
São Michael Jordan
Voando pelos ares Del Ensanche.
Ozama
Vem me ver, corre, vem
As motinhos,
Sabotando todos os dados da sorte.

A velocidade da malícia
De um habitante do manguezal
Sou a estrela dos cachorros desvelados
O Cibao engrandecido
Como um armazém de pedras para comer
O sul, um solo sotaque canino
O leste, um deserto de pessoas mortas e cozidas
Numa panela com forma de diamante
Tudo sob o uivo do homem cão,
O mutante que tem nos bolsos
Escondidas pulgas do mal
A morte de dentes.
Roedora de ossos
A morte raivosa que sempre seremos
O homem cão
Calcula seu próprio peso olhando o obelisco
Os montes de papelão
Nas suas costas adiantando
O apocalipse do quintal
Que também é da mina invenção
Porque tudo o que existe nessa metrópole
É meu, eu nomeei tudo,
fui tudo marionete de rádio,
Televisão dominicana
Dominicana ausente
No show de vickiana
Perdedora de concursos de beleza
Idiota número oito
Cobiçada do domingo balaguerista.
Puta, velha cadela, pobre golden baba

Eu,
Venham até mim os poderes
de um xangó que agora é um Pokémon
A mim sem nomes
Sem aniversários
Sem frangos geneticamente manipulados
Sem cozinha onde preparar meu café
Sem nome
Sem golden

Eu,
aquela que espera seus irmãos
Embaixo da colcha tricolor
Que não é a pátria
É outra coisa alcoolizada pelos dejetos
E o Discovery channel

Eu,
A fervorosa admiradora de Toño
A estrela dos cães que esvoaçam como
Canibais borboletas de sucata
Aquela que brinca com os matacueros,
Sem vergonha,
Filha da puta
Que não são eu
Aquela que vê a cidade esquartejada.
Continua precisando dos seus antigos nomes.
Será que ninguém viu ainda?
Por que ninguém levanta o telefone?
O secretel é a marca da besta
Venham por favor
Me libertem dessa ilha cara cortada
Que não lembra dos seus abortos
Volto a ser eu novamente
A infância de um gatinho cibernético
A sujeira miúda do catolicismo light
Apostando minha sorte
No coração do céu caribenhoO furacão final
Que entrará sem misericórdia
Por todas as portas

O furacão
Que é uma aranha metálica
Com oito pás douradas
Pego na mão.
E, minha mão é a ilha
E, como sempre é tão bonita.

Tradução: Luciana di Leone
Poema de Rita Indiana Hernández
Fonte: https://revistaperiferias.org/materia/tres-vozes-da-poesia-latino-americana-contemporanea/






Rita Indiana Hernández nasceu em 1977, em Santo Domingo, República Dominicana (Ilha, faz fronteira com o Haiti, e, é próxima de Cuba);

Ela é a cantora do grupo Los mistérios;

Publica seu primeiro romance "La Strategy de Chochueca" em 2000;

Em 2008 produz o álbum Altar Espandex, com a dupla Miti Miti, uma mistura entre naïf, electro, merengue e gagá;

No final de 2010, El Judero, o primeiro álbum da banda, foi lançado pela Premium Latin Music;

Atualmente (2012) reside em Miami.


Fontes:
https://www.escritores.org/biografias/17223-indiana-hernandez-rita
https://www.cccb.org/es/participantes/ficha/rita-indiana-hernandez/39440



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