O projeto Outros Poetas visa um primeiro contato com a produção de um(a) poeta através da declamação de um ou mais poemas e uma breve visão biográfica.
Nesta quinta edição Nísia Floresta.
Declamação: Alexandre Paulino.
Para assistir o vídeo acesse:https://www.youtube.com/watch?v=o2gLceLP2ec
"[...] Não lhe cingia a fronte um diadema, Insígnia de opressor da humanidade… Armas não empunhava, que os tiranos Inventaram cruéis, e sob as quais Sucumbe o rijo peito, vence o inerte, Mata do fraco a bala o corajoso, [...] Era um homem sem máscara, enriquecido Não do ouro roubado aos iguais seus, Nem de míseros africanos de além mar, Às plagas brasileiras arrastados Por sedenta ambição, por crime atroz! Nem de empregos que impudentes vendem, A honra traficando! O mesmo amor!! Mas uma alma, de vícios não manchada, Enriquecida tinha das virtudes Que valem muito mais que esses tesouros. [...] Era um Caeté, que vagava Na terra que Deus lhe deu, Onde Pátria, esposa e filhos Ele embalde defendeu!... [...] Aqui, mais tarde trazendo Na alma triste, acerba dor, Vim chorar as praias minhas Na posse de usurpador! Que de invadi-las Não satisfeito, Vinha nas matas Ferir-me o peito! Ferros nos trouxe, Fogo, trovões, E de cristãos Os corações [...] Tudo roubou-nos, Esse tirano, Que o povo diz-se Livre e humano! [...] Por nossos costumes singelos e simples Em troco nos deram a fraude, a mentira. De bárbaros nos dando o nome, que deles Na antiga e moderna História se tira. Maldito, ó maldito sejas Renegado Tapeirá!... Teu nome em nossas florestas Em horror sempre será! [...] Mais tarde se viu Os seus descendentes Contra eles se armarem; Pô-los em correntes! Alguns filhos seus Que crime! que horror! Cruéis lhe mandaram A morte, o terror!... [...] Conosco cruel Foi uma nação, Lançou-lhe o Eterno Sua maldição [...] Não vês, ó Luso povo, em teu sofrer Do Onipotente o dedo, que te aponta O mal, que sobre nós lançado tens, No mais de séculos três? Oh, dor pungente! Oh! Lembrança fatal de males tantos! [...] Se Anhangá contra nós mandava o mal, Para longe a cabana transferíamos; Nossas eram as matas, suas frutas, Seus regatos, seus rios, tudo era Propriedade nossa… A Natureza Por toda a parte bela nos sorria … Sorria-nos o amor, o céu sorria-nos… Onde estão, fero Luso ambicioso, Estes bens, que eram nossos? Porangaba perdi, perdi os filhos; Ai de mim! Inda vivo!! Com a Pátria lá foram esses tesouros! O pranto só me resta!... [...] Sobre os nossos opressores Mande o céu seu raio ardente! E na pátria dos Caetés Sofram eles dor pungente! Mas dor tão grande, que possa Fazê-los lembrar da nossa!... Então talvez um remorso Lhes entre no coração, Pelos males que trouxeram À nossa feliz nação! E de seu peito um gemido Cruel se escape o dorido! [...] Mas hipócrita, fanático É esse povo somente, Quando diz que o céu clemente Ao homem deu tal poder!... Iria o mau cometer [...] Terrível crime nefando A salvação esperando Da mão do homem da terra. Que a santa vontade encerra Em seu mundo miserando!... [...] Se ambiciosa não foras Terras d’África conquistar, Teu jovem rei não verias Sem dinastia acabar! Do fanatismo os teus filhos Triste presa não seriam, Nem no teu solo os seus padres A fogueira acenderiam. [...] Estas vozes soltando angustiados Emudece o Caeté… Quedo ficou, Com os olhos no céu, dele esperando A tardia, porém certa justiça! [...] Esta voz atento Escuta o Caeté Já seu triste pranto Amargo não é; Não é sua dor Já sem esperança: Um feliz porvir Sua ideia alcança… Já crê de outros bravos Ouvir o chamado: - Às armas! Às armas! O Povo é vingado… Do Una ao Paraíba Do mar aos Sertões. A vingança abala [...] Tenho flechas e um braço de Caeté Da dor o coração compenetrado De uma inteira, infeliz, extinta raça… Vingando-te, eu a vingo. E pronto o Caeté o arco brandiu… E como inspirado as matas deixando, Já de seus rodeios lá ele saiu… Ei-lo a capital feroz demandando. [...] Da Liberdade um sorriso De desprezo esmagador Responde só aos uivos Do Despotismo eversor… Ele, que cruel se apraz Perseguir os filhos seus, Mil suplícios inventando Sem lembrar-se que há um Deus. Deus, que uma raça não fez Para sobre as outras raças ter Revoltante primazia, Ilimitado poder! [...] Do Amazonas ao Prata O povo lhe está bradando: - Sacia-te monstro atroz, Teu império está finando! [...] E lá do Caeté O triste pungir, Com ele se foi No céu confundir!" |
Trechos do poema "A Lágrima de um Caeté”, de Nísia Floresta,
extraídos da Monografia "A Lágrima de um Caeté, de Nísia Floresta,
como Corpus Sensível e Possível para o 9° Ano", para a obtenção de
título de Mestre em Letras na Universidade Federal de Sergipe, autoria
de Waldemar Valença Pereira. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/6445
Sobre Nísia Floresta:
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Em 12 de outubro de 1810, nasceu Dionísia Gonçalves Pinto, na cidade Papari no Rio Grande Norte, hoje a cidade leva o
nome da escritora; |
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Com treze anos, a menina foi obrigada a casar-se com um rico proprietário de terras. Poucos meses depois Dionísia
rompeu com seu esposo e fugiu de volta para casa; |
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Em 1831, Nísia começou a escrever para O Espelho das Brasileiras, jornal editado em Recife, é apontada como a
primeira mulher a escrever em um jornal; |
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Em 1832, publica o livro Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens; |
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Em 1838, funda, no Rio de Janeiro, um dos primeiros colégios exclusivos para meninas. A legislação brasileira
previa escolas femininas desde 1827, porém o ensino era limitado à educação do lar. No Colégio Augusto as meninas
recebiam as mesmas aulas que os meninos, aulas de matemática, português e história; |
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Nísia morreu com 75 anos, na França; |
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Nísia Floresta foi poeta, cordelista, educadora e feminista. |
Fonte: https://agenciadenoticias.uniceub.br/comunicacao/conheca-a-historia-de-nisia-floresta-primeira-jornalista-feminista-do-brasil/ |
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