sexta-feira, 24 de junho de 2022

5º edição de Outros Poetas com Nísia Floresta

Alexandre Morais Paulino
A esquerta: Retrato de Nísia Floresta jovem, autor Luis Carlos Freire, 
(Fonte: livro História de Nísia Floresta, Adauto da Câmara, 1941). Acervo: 
L.C.Freire. A direita minha foto de autoria de Elen Carolina Dias Paulino.

O projeto Outros Poetas visa um primeiro contato com a produção de um(a) poeta através da declamação de um ou mais poemas e uma breve visão biográfica.

Nesta quinta edição Nísia Floresta.

Declamação: Alexandre Paulino.

Para assistir o vídeo acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=o2gLceLP2ec

 

Trechos do poema "A Lágrima de um Caeté"

"[...]

Não lhe cingia a fronte um diadema,
Insígnia de opressor da humanidade…
Armas não empunhava, que os tiranos
Inventaram cruéis, e sob as quais
Sucumbe o rijo peito, vence o inerte,
Mata do fraco a bala o corajoso,

[...]

Era um homem sem máscara, enriquecido
Não do ouro roubado aos iguais seus,
Nem de míseros africanos de além mar,
Às plagas brasileiras arrastados
Por sedenta ambição, por crime atroz!
Nem de empregos que impudentes vendem,
A honra traficando! O mesmo amor!!
Mas uma alma, de vícios não manchada,
Enriquecida tinha das virtudes
Que valem muito mais que esses tesouros.

[...]

Era um Caeté, que vagava
Na terra que Deus lhe deu,
Onde Pátria, esposa e filhos
Ele embalde defendeu!...

[...]

Aqui, mais tarde trazendo
Na alma triste, acerba dor,
Vim chorar as praias minhas
Na posse de usurpador!

Que de invadi-las
Não satisfeito,
Vinha nas matas
Ferir-me o peito!

Ferros nos trouxe,
Fogo, trovões,
E de cristãos
Os corações

[...]

Tudo roubou-nos,
Esse tirano,
Que o povo diz-se
Livre e humano!

[...]

Por nossos costumes singelos e simples
Em troco nos deram a fraude, a mentira.
De bárbaros nos dando o nome, que deles
Na antiga e moderna História se tira.

Maldito, ó maldito sejas
Renegado Tapeirá!...
Teu nome em nossas florestas
Em horror sempre será!

[...]

Mais tarde se viu
Os seus descendentes
Contra eles se armarem;
Pô-los em correntes!
Alguns filhos seus
Que crime! que horror!
Cruéis lhe mandaram
A morte, o terror!...

[...]

Conosco cruel
Foi uma nação,
Lançou-lhe o Eterno
Sua maldição

[...]

Não vês, ó Luso povo, em teu sofrer
Do Onipotente o dedo, que te aponta
O mal, que sobre nós lançado tens,
No mais de séculos três? Oh, dor pungente!
Oh! Lembrança fatal de males tantos!

[...]

Se Anhangá contra nós mandava o mal,
Para longe a cabana transferíamos;
Nossas eram as matas, suas frutas,
Seus regatos, seus rios, tudo era
Propriedade nossa… A Natureza
Por toda a parte bela nos sorria …
Sorria-nos o amor, o céu sorria-nos…

Onde estão, fero Luso ambicioso,
Estes bens, que eram nossos?
Porangaba perdi, perdi os filhos;
Ai de mim! Inda vivo!!
Com a Pátria lá foram esses tesouros!
O pranto só me resta!...

[...]

Sobre os nossos opressores
Mande o céu seu raio ardente!
E na pátria dos Caetés
Sofram eles dor pungente!
Mas dor tão grande, que possa
Fazê-los lembrar da nossa!...
Então talvez um remorso
Lhes entre no coração,
Pelos males que trouxeram
À nossa feliz nação!
E de seu peito um gemido
Cruel se escape o dorido!

[...]

Mas hipócrita, fanático
É esse povo somente,
Quando diz que o céu clemente
Ao homem deu tal poder!...
Iria o mau cometer

[...]

Terrível crime nefando
A salvação esperando
Da mão do homem da terra.
Que a santa vontade encerra
Em seu mundo miserando!...

[...]

Se ambiciosa não foras
Terras d’África conquistar,
Teu jovem rei não verias
Sem dinastia acabar!

Do fanatismo os teus filhos
Triste presa não seriam,
Nem no teu solo os seus padres
A fogueira acenderiam.

[...]

Estas vozes soltando angustiados
Emudece o Caeté… Quedo ficou,
Com os olhos no céu, dele esperando
A tardia, porém certa justiça!

[...]

Esta voz atento
Escuta o Caeté
Já seu triste pranto
Amargo não é;
Não é sua dor
Já sem esperança:
Um feliz porvir
Sua ideia alcança…
Já crê de outros bravos
Ouvir o chamado:
- Às armas! Às armas!
O Povo é vingado…
Do Una ao Paraíba
Do mar aos Sertões.
A vingança abala

[...]

Tenho flechas e um braço de Caeté
Da dor o coração compenetrado
De uma inteira, infeliz, extinta raça…
Vingando-te, eu a vingo.

E pronto o Caeté o arco brandiu…
E como inspirado as matas deixando,
Já de seus rodeios lá ele saiu…
Ei-lo a capital feroz demandando.

[...]

Da Liberdade um sorriso
De desprezo esmagador
Responde só aos uivos
Do Despotismo eversor…

Ele, que cruel se apraz
Perseguir os filhos seus,
Mil suplícios inventando
Sem lembrar-se que há um Deus.

Deus, que uma raça não fez
Para sobre as outras raças ter
Revoltante primazia,
Ilimitado poder!

[...]

Do Amazonas ao Prata
O povo lhe está bradando:
- Sacia-te monstro atroz,
Teu império está finando!

[...]

E lá do Caeté
O triste pungir,
Com ele se foi
No céu confundir!"


Trechos do poema "A Lágrima de um Caeté”, de Nísia Floresta,
extraídos da Monografia "A Lágrima de um Caeté, de Nísia Floresta,
como Corpus Sensível e Possível para o 9° Ano", para a obtenção de
título de Mestre em Letras na Universidade Federal de Sergipe, autoria
de Waldemar Valença Pereira. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/6445


Sobre Nísia Floresta:

Em 12 de outubro de 1810, nasceu Dionísia Gonçalves Pinto, na cidade Papari no Rio Grande Norte, hoje a cidade leva o nome da escritora;

Com treze anos, a menina foi obrigada a casar-se com um rico proprietário de terras. Poucos meses depois Dionísia rompeu com seu esposo e fugiu de volta para casa;

Em 1831, Nísia começou a escrever para O Espelho das Brasileiras, jornal editado em Recife, é apontada como a primeira mulher a escrever em um jornal;

Em 1832, publica o livro Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens;

Em 1838, funda, no Rio de Janeiro, um dos primeiros colégios exclusivos para meninas. A legislação brasileira previa escolas femininas desde 1827, porém o ensino era limitado à educação do lar. No Colégio Augusto as meninas recebiam as mesmas aulas que os meninos, aulas de matemática, português e história;

Nísia morreu com 75 anos, na França;

Nísia Floresta foi poeta, cordelista, educadora e feminista.


Fonte:
https://agenciadenoticias.uniceub.br/comunicacao/conheca-a-historia-de-nisia-floresta-primeira-jornalista-feminista-do-brasil/


Conheça o Museu Nísia Floresta:
http://museunisiafloresta.com.br/

Inscreva-se, curta e acompanhe o canal:
Alexandre Paulino - Arte e Educação
https://www.youtube.com/c/AlexandrePaulinoArteeCultura

Acompanhe o projeto Outros Poetas:
https://www.youtube.com/watch?v=J7-eiWLL5y0&list=PLkEnydohMKaYPlFbJyqRypc-jei1Y9Mo-


Contato: paulinosistemas@hotmail.com

 
Outros links:
http://paulinoalexandreletraseverbos.blogspot.com/
https://alexandrepaulinoxadrez.blogspot.com/
https://www.facebook.com/paulino.alexandre.75/
https://www.youtube.com/c/AlexandrePaulinoArteeCultura
@alexandrepaulinopoeta 

#AlexandrePaulinoPoeta #AlexandrePaulinoRadialista #ProfessorAlexandrePaulino #CasArteMarginal #Rádio #WebRadio #ArteMarginal #OutrosPoetas #LiteraturaMarginal #LiteraturaPeriferica #LiteraturaBrasileira #LiteraturaNacional #PoetasContemporaneos #Poesia #Poema #Arte #Literatura #Love #Livros #Cultura #Leitura #Ler

Nenhum comentário:

Postar um comentário