domingo, 6 de outubro de 2013

Xerife Planetário

Foto Montagem a partir de imagens na NET


          O que acontece na Síria, talvez não seja o foco real. A denúncia por parte da oposição ao governo de Bashar al-Assad de que no ataque a Damasco haviam sido usadas armas químicas e 1300 pessoas perderam suas vidas em decorrência disso, a notícia nos remente a mais bruta face da barbárie humana.
          No entanto se levarmos em consideração que os países vizinhos da Síria: Iraq, Kuait, Arábia Saudita e Irã, produzem juntos 34 milhões de barris de petróleo dia, e se também for levado em consideração que o estreito de Ormuz transporta 17 milhões de barris dia, o Canal de Suez e o gasoduto Sumed 3,8 milhões de barris, tudo isso muito perto da Síria.
          Além disso, o que insere um tempero extra a tudo é o fato de ser o Irã o principal fornecedor de armas da Síria. Nesse contexto, vemos novamente os EUA assumirem a postura do xerife do mundo, o grande paladino com suas botas lustrosas vem para impor sua ordem, seus valores éticos e morais, mas será essa postura, esse véu branco que nos é apresentado, fruto da mais pura verdade, ou, o contexto econômico fala mais alto que a contabilidade da mortalidade, as afrontas aos direito humanos dos quem por força do regime, mudos estão, acuados estão, com seus olhos fitos no deserto a espera que a comunidade internacional tome posturas que além de salvar suas vidas, resgate a dignidade que lhes foi arrancada.

          Não acredito que o governo de Bashar al-Assad deva ser defendido, mas isso não significa que a postura dos EUA seja digna de defesa, uma vez que parece-me ser, essa postura calcada muito mais preocupada no ouro negro do que com as vidas envolvidas neste ou em outros conflitos.

sábado, 14 de setembro de 2013

Foto montagem com imagens obtidas na net

Há João que encare seus problemas.
Há José que encare seus problemas.
Há João que seus problemas transforme.
Há José que seus problemas transforme.
José os seus em precipícios.
João os seus em âncoras.
José precipício a frente tem.
João âncora a frente tem.
José acorda que corda tem.
José sem beira que madeira vem.
José precipício profundo quem tem?
José, corda, madeira, que fez.
João acorda que corda tem.
João que tal metal tem.
João âncora pesada, quem tem?
João, corda, metal, que fez.
José, corda, madeira, que fez.
João, corda, metal, que fez.
José precipício a frente tem.
João âncora a frente tem.
José com corda, madeira, ponto fez.
João com corda, âncora, nó fez.
José com ponte precipício passou.
João com nó a âncora se prendeu.
José precipício atravessou.
João âncora ficou.
Um seu problema enfrentou.
Outro seu problema ficou.
Um, seu caminho seguiu.
Outro sem caminho ficou.
Ficou até nó desfazer.
Ficou até âncora soltar.
E seu caminho seguir.
A procura de outra âncora.
A procura de novo precipício.
E com eles crescer.

Escrito em 30/08/2013 - 14:38

domingo, 25 de agosto de 2013

Love a História de Lisey

Adaptação de Silvana Mattievich sobre design original de Hauptmann & Kompanie

Autor: Stephen King
Tradução: Fabiano Morais
Editora: Editora Objetiva Ltda

          Até onde vai o amor? Será que ele é capaz de transpor os limites da realidade? Será que ele é capaz de transpor os limites da morte? E a inspiração, o que faz uma pessoa se transformar em um grande escritor, será que a inspiração é mais que a magia invisível que move nossa imaginação, será que ela é um dom ou uma maldição. Neste livro esses elementos se misturam e formam a trama de um livro delicioso, desses que nos convida a viajar pelo mundo fantástico de um homem estranho e as marcas que ficaram depois da sua partida.

     Lisey é a esposa desse grande escritor que se foi, a memória de um grande amor, a saudade, as lembranças, os manuscritos não publicados, o assédio dos estudiosos da sua obra, um fã psicopata, uma irmã “meio louca”, um mar de fãs que admiram sua obra, uma vasta fortuna, histórias malucas de uma família muito mais que maluca e a chave para um mundo mágico e perigoso, esses são os elementos de sua herança, é com eles que ela tem que lidar, são eles que irão fazer cada leitor embarcar em um livro que pelo menos a mim prendeu, envolveu e que não fui capaz de largado até seu fim. 

       Este é o primeiro livro que leio de Stephen King, que teve tantos livros transformados em filme; A Tempestade do Século; Um sonho de Liberdade; A Espera de um Milagre, são alguns exemplos que despertaram em mim curiosidade e interesse. Ele é considerado como um dos mestres do terror/suspense, neste livro sua fama é confirmada com louvor ficando um gostinho de quero mais.

domingo, 18 de agosto de 2013

Noite Fria.

Foto montagem de imagens obtidas na net

          Ontem primeiro ele, o frio veio ter comigo e sua visita me fez refletir. Há muito não pensava sobre os motivos que me levaram a morar na rua, sabe já tive família, um bom emprego, amigos. Você meu amigo, deve saber que a vida é uma montanha russa, uma hora lá em cima no topo do mundo e em outra no fundo do poço, um turbilhão de coisas, as dificuldades, os dissabores e você precisando de algo, algo que lhe dê a sensação de que pode mais, que é mais que os outros, primeiro a bebida o convívio com os outros, todos meus grandes amigos, tão grandes amigos que sempre ofereciam mais, mais e mais, todos se entendiam, todos sorriam, todos queriam mais, todos queríamos mais, todos e todas, sempre havia mais, mais um traguinho, mais um fuminho, mais uma pedrinha.

         Primeiro o emprego, aquele chato do chefe com aquele história de concentração, foco nos resultados, blá, blá, blá, aconselhou-me a procurar ajuda e tome blá, blá, blá. Numa  bela manhã o dedo em riste me indicando a direção da rua, raiva, ódio, como pode, quem eles pensam que são, naquele dia pela primeira vez levanto a mão para ela, perdi a conta quantas vezes isso aconteceu, chegava em casa com a cabeça zuretada e tabefe, antes de sair tabefe, tabefe, tabefe e tabefe, até que um dia acho a casa vazia, melhor assim.

          Agora nesta noite vazia, fria, com minha garrafa vazia, com minhas pedrinhas, meus trapos, tenho ele a me embalar, com seu toque gélido, seu hálito sussurrado em meu ouvido, tudo ficaria bem, ele estava ali para me embalar, para me preparar para ela que vinha também ter comigo, falou-me de outro lugar onde ficaria esperando por outras aventuras, meus dedos estão formigando, tento acender meu cachimbo mas meus dedos me faltam, o frio me envolve, sinto meu pé formigar de uma forma incomoda, ele o frio me acaricia, lentamente sinto uma zomzera diferente, o formigamento vai parando, ele se foi, já não o sinto mais.

          Lentamente abro os olhos e vislumbro ela, é alta e esguia, já não sinto medo, aparece que tudo ficou para trás, ela me oferece seu toque, é quente, reconfortante e inspira uma confiança que há muito não sentia, diz que ira me levar para uma outra aventura, para outro lugar, de relance olho para trás e vislumbro uma carcaça vazia envolta em trapos, olho para frente e sigo, sigo com ela, minha amiga.

sábado, 10 de agosto de 2013

Uma Tragédia Anunciada?

Foto Obtida no Facebook e divulgada pelo R7 acesso 08-08-13
http://noticias.r7.com/sao-paulo/fotos/policia-investiga-se-menino-de-13-anos-matou-a-familia-06082013#!/foto/1

          E se você entrasse em uma casa e se deparasse com três cadáveres,  na casa dos fundos mais dois, uma família. Um menino de 13 anos (Marcelo Pesseghini), sua mãe (Andréia Bovo Pesseghini cabo do 18º Batalhão da polícia militar), seu pai (Luís Marcelo Pesseghini sargento da Rota), sua avó, sua tia avó, e se o agente policial lhe dissesse  que o menino matou o pai com um tiro na cabeça enquanto dormia e isso acordou a mãe, que morreu ajoelhada talvez implorando pela vida, nesse momento o garoto vai até a casa dos fundos e também com tiros mata sua avó, mata sua tia avó, também com tiros na cabeça, também enquanto dormiam, depois disso tudo, imagino que tenha tomado banho, vai até o carro da família e dorme, acorda no dia seguinte e vai até a escola guiando o carro da família e assiste a aula normalmente, volta até sua casa e se mata. Essa é a versão da polícia até agora.

        O comandante do cabo Andréia (a mãe), Wagner Dimas coronel da polícia militar, disse à impressa que ela havia denunciado colegas de farda por estarem envolvidos com roubo de caixas eletrônicos, ele coronel disse não estar totalmente certo da versão do garoto ser o responsável pela morte da família. Segundo um amigo do garoto Marcelo Pesseghini, ele já o havia convidado para fugir de casa, queria ser matador de aluguel, mataria os pais e fugiria com o carro para viver em um lugar abandonado. Segundo o colégio Stella Rodrigues, Marcelo Pesseghini em sua última passagem pela escola no dia 05/08/2013, em seu último dia de vida, após ter matado sua família, antes de se matar (segundo a atual versão policial), se comportou normalmente não dando mostras de que algo fora do comum tivesse ocorrido, a escola ainda revela que seus pais sempre foram presentes e participativos nas atividades da vida escolar do seu filho.

          Essa notícia choca, nos mostra algo que gostaríamos de não ver, não ouvir, mas está lá na realidade e ignorar a realidade e fazer de conta que não existe, é dar margem para que ela se perpetue, se repita, devemos sim nos debruçar sobre ela, estudar o que levou um garoto a executar tal coisa (se é que a versão da polícia se confirme), e aprender, aprender o sinais que antecedem a tragédia e talvez quando esbarrarmos com uma outra possível tragédia evitá-la.

PS: As informações foram obtidas nos sites da R7 e do jornal Folha de São Paulo.’’



sábado, 3 de agosto de 2013

A menina que roubava livros

Capa do livro (Mariana Newlands)

Autor: Markus Zusak
Editora: Intrínseca

          O autor elegeu uma das personagens para ser o narrador da historia de uma garotinha orfã de pai e que a mãe sem condições financeiras para criar a filha se vê obrigada a dar sua filha Liesel para adoção, essa garotinha em momentos pontuais estabelece uma relação com livros, que para ela são tesouros que a ligam a sua realidade (ou a libertam) e ao momento que está vivendo, o prazer que ela sente com a aquisição do livro, a descoberta, a conquista da leitura.

         O pano de fundo é a Alemanha nazista da 2º guerra, o livro mostra de forma fantástica o que é viver num país nazista sem ser nazista (imagino a legião de pessoas que passaram por esta situação), as pressões de cunha ideológico e financeiro que a família que adota a pequena Liesel sofre. O ponto alto dessa situação é esconder um jovem judeu em seu porão, as dificuldades e a magia desse ato.

        E o que considero ser um dos pontos fortes desse livro, a escolha da personagem que narra a história, ninguém menos que a morte, que narra de forma distante (como era de se esperar da morte), participando em momentos pontuais, levando as almas que vão sendo ceifadas ao longo da história pela dura realidade de uma das guerras que mais marcara a raça humana.

sábado, 27 de julho de 2013

Querendo querer

Foto montagem de imagens obtidas na net (FhotoShop)


          Não quero, o querer.
          Esse querer, que anda por ai
          Como um sem querer, que sai por ai
          Esbarra em meu querer e lhe toma por ai

          Que lhe envolve e não lhe devolve,
          Que me emudece que me entristece, 
          Que lhe espreita e não lhe respeita,
          Que me embrutece, que me endurece.

          Não quero que seu querer
          Esse querer que anda por ai,
          Como um querer, que sai por ai,
          Esbarra noutro querer e lhe tomo por ai.

          Que lhe emudece e pode lhe entristecer,
          Que me envolve pois não me devolve ,
          Que lhe embrutece e pode lhe endurecer,
          Que me espreita pois não me respeita.

          Não quero que meu querer,
          Esse querer, que anda por ai
          Como outro querer, que sai por ai
          Esbarra sem querer, onde não há querer.


Escrito em 21/09/2008

sábado, 20 de julho de 2013

Inquebrável

Foto montagem de algumas pessoas que participam do projeto.


          Sempre enxerguei o ato sexual como uma comunhão entre duas pessoas, estar dentro de outra pessoa como a maior intimidade que pode ser oferecida, as sensações, os odores, os sabores, a troca de carinho, tudo caminhando para uma erupção em que ambos possam compartilhar da criação de um momento único e poderá transformar-se em sequências de momentos únicos.

          E quando o ato sexual é fruto de uma violência, quando utilizando de força bruta um indivíduo force outra pessoa ao ato, imagino que esse momento deva deixar cicatrizes que devam acompanhar a pessoa por toda sua vida, a forma como a sociedade passe a encarar a pessoa, com pena, com reprovação, com outros olhos. Acredito que via de regra a pessoa procure se esconder, esconder o que acorreu e com isso obter um conforto mesmo que não verdadeiro, mas isso também protege o agressor, a impunidade deve incentivar a continuidade da violência, que outras vítimas possam sofrer nas mãos do agressor.

          O projeto Unbreakable (inquebrável), da fotografa norte americana Grace Brown, busca exatamente a quebra do silêncio, nele pessoas que sofreram esse tipo de violência se deixam fotografar com cartazes onde dizeres dos agressores no momento da violência são mostrados, acho que uma maneira de continuar a vida seja enfrentando os problemas apresentados por ela, parabéns a Grece Brown pela iniciativa e principalmente parabéns aos participantes pela coragem de mostrar ao mundo a face da violência, mostrar ao mundo sua face e mostrar que são fortes, que são inquebráveis.




sábado, 13 de julho de 2013

Orgulho, Calo, Fronteira...


Meu orgulho ferido fere seu orgulho, que ferido, meu orgulho ferir vai.
Seu calo que pisado foi, agora pisar um calo procurar vai.
A fronteira que invadida no ontem foi, no hoje retomada a força de baionetas e sangue foi.
A cada círculo formado, um novo circulo iniciar vai.
Orgulho, calo ou fronteira, nada importa.
Importa mesmo é o poder.
Poder de seu orgulho ferir.
Poder de seu calo pisar.
Poder de sua fronteira invadir.
Poder de minha baioneta desembainhar.
Poder de seu sangue derramar.
Mas importar, importar mesmo, é o poder.
Poder para o orgulho engolir e perdoar.
Poder para depois do calo pisado, os pés de seu oponente lavar.
Poder para seu território recuperar sem sangue derramar.
Poder para todos unidos estarmos.
E juntos seguirmos para o futuro.
Futuro que fronteiras não existam.
Existam apenas homens livres.

Primeira publicação:

Inspiração


          Acordo no meio da noite, lentamente abre meus olhos e fito o teto, pensamentos conturbados vindos do cotidiano me assolam, o que fazer, para onde foi ele o sono, levanto, uma folha em branco, um lápis, a inspiração onde está?

          Eu e o lápis iniciamos nosso trabalho, neste momento ele vem, vem como sempre vem, sem avisar, apenas vem, como sempre devagar me toma, como toma você, como toma ele, eles, elas, a todos, meus olhas vão lentamente se fechando, justo agora, agora que escrever ia, ele o sono me vem, chega e me leva ao mundo dos que acordados não estão.

          Neste momento do lápis dois pequenos braços brotam, e esses dois pequenos membros começam seu esforço para de meus dedos se libertar, primeiro um braço, depois o outro, suas pequenas mãos se apoiam em meus dedos e empurram seu esguio corpo de lápis para cima, um, dois, de novo, de novo, força, força, força que forma toma até que se faz livre. Da folha dois olhos brotam, uma boca, quem diria o lápis olhos e boca também têm, e os dois iniciam algo sul real.

          “- Ele dormiu.”

          “- Sim, dormiu.”

          Ambos piscam e seu trabalha inicio tem, a folha sobre a mesa, o lápis sobre a folha, escrevem, contam uma história de uma terra distante, mágica, falam do amor, das pessoas, da brisa soprando que leva os sonhos a experiências extraordinárias, levam suas personagens aos labirintos da vida...

          Acordo com um leve incomodo no pescoço, abro meus olhos e fito a folha sobre a mesa, o lápis sobre a folha, imóvel como um lápis deve ser, pego a folha que preenchida está, leio, releio, gosto do que vejo, apesar de não me lembrar de ter escrito nada, talvez a sonolência inspiração me deu. Deixo a folha e lápis sobre a mesa e me dirijo para a cama, para meu sono terminar. 

Primeiras publicações:

Espírito


Ouvi dizer, mas onde está?
Corri o mundo e muito pouco achei.
Fui aqui e acolá e nada achei.
Falaram-me, mas não encontrei.
Encontrei sede de consumo.
Uma grande corrida.
Quem tinha e podia gastar ia.
O desejo corria, se afastar ia.
Quem tinha e queria, comprar ia.
O desejo sentia, se ganhar ia.
Onde está? Se tanto ouvi dizer.
Muito pouco achei e o mundo corri.
Nada achei, e fui aqui e acolá.
Não encontrei, mas me falaram.
Falaram de amor, pouco vi.
Falaram de respeito, só falta senti.
Falaram de paz, guerra vi.
Falaram de afeto, só vazio senti.
E se você o espírito do Natal achar.
Abra você o coração para ele entrar.
Sinta você todo amor que ele lhe dar
Sinta você toda paz que ele lhe ofertar
Sinta você todo respeito que ele lhe ensinar.
Sinta você todo afeto que ele lhe acercar.
Mas você guardar não vai
O espírito de Natal, livre deve ser.
E assim passe ele.
Abrace a mim, seu irmão, seu vizinho.
Abrace seu amigo e seu inimigo
E dele faça seu amigo.
E assim o Natal feliz será.

Primeiras publicações:

Democracia Corinthiana.


       Nos últimos dias dois fatos marcaram a nação Corinthiana, fomos pentas campeões...

             E perdemos o Dr. Sócrates, poderia citar que um atleta não deveria beber, que beber faz mal a saúde, blá, blá, blá, isto me lançaria ao lugar comum, seria mais uma vez dizer o fácil, o que todos dizem, o que todos sabem, prefiro lembrar que somos todos humanos, e como humanos somos cheios de defeitos e vícios, que devemos sim lutar contra eles, dia a dia, mas os temos.

                 E neste momento gostaria de lembrar que o gênio do calcanhar, integrou um movimento que tirou do dicionário uma palavra em desuso na época, uma palavra que extrapola seu próprio significado; governo para o povo. Mas também traz em seu bojo o peso de dizer que ninguém, ninguém, mas ninguém pode decidir pensar pelos outros, sem que tenha sido autorizado pelos outros e com regras claras e pré estabelecidas.

                Gostaria de deixar aqui minha humilde homenagem ao homem que com seus defeitos e virtudes deixou sua marca na história, um forte abraço Dr. Sócrates e boa sorte em sua nova jornada.

Primeiras publicações:

Partida


Seu coração ansiava por partir.
E partiu, como quem abraça a vida e segue por seus caminhos.
Partiu e assim partiu o coração de sua velha mãe.
Partindo também o coração de seu velho pai.
Corações já tão partidos, por tantas outras partidas.
Mas seu coração ansiava por partir.
E partindo ansiava por outros ares.
Partiu e assim partiu o coração da jovem moça.
Partindo também seus sonhos, uma casinha, filhos, flores.
Sonhos que ficam confinados nos confins de seu coração. 
Sonhos, que ficam partidos nos confins de seu coração. 
Esperando quem sabe por outro coração que os realize, ou os partam novamente.
E seu coração ansiava por partir.
E partindo seu coração ansiava por outros lugares.
E partiu, partindo as possibilidades que sua pequena cidade lhe ofertava.
E se foi, partiu para abraçar os caminhos e descaminhos da vida.
E partindo se partiram as linhas que traçavam seu destino.
Linhas que dele faziam marionete.
E se foi.

PS: Este poema faz parte de uma trilogia (Partida, Chegada e Retorno)

Primeiras publicações:

A Arte da Guerra


Autor: Sun Tzu
Editora: Ciranda Cultural

          É verdade que esse livro traça estratégias de combate, leva em consideração a topografia e sua importância em batalhas, fala de pessoas e seus perfis de comando, dos preparativos para se entrar em guerra, quando devemos atacar e quando não devemos atacar, das qualidades que um general deve ter, como elevar a moral da tropa, de escolas em relação ao armamento, quantidade de soldados, suprimentos e seu transporte, espionagem e suas variáveis, entre outras coisas.
 
          Nesta questão o livro é muito bom, e isso com certeza é um pleonasmo, se ele não fosse muito bom ele não teria atravessado os séculos (alguns relatos dão conta de que Sun Tzu morreu em 496 a.C.). 

         Mas também é verdade que podemos traçar um paralelo entre administrar uma empresa e a arte de se fazer guerra, em relação a isto, este livro tem sido muito usado, mas também podemos aplicar alguns de seus conselhos para realizar qualquer projeto. 

          O livro vale pelo menos pelo prazer de sua leitura, é um livro direto em que as informações são apresentadas de forma clara, quase como se estivéssemos travando uma conversa com alguém que quer nos ensinar. 

Primeiras publicações:

Livre


Queria ser livre, livre como a pipa, mas a pipa não é livre, está presa a linha, está presa ao     
             vento.
Queria ser livre, livre como a pomba, mas a pomba não é livre, está presa a gravidade, está    
             presa aos seus.
Queria ser livre, livre como o rico, mas o rico não é livre, está preso a riqueza, está preso a 
             pompa.
Queria ser livre, livre como a vida, mas a vida não é livre, está presa ao tempo, está presa a 
             morte.

Livre, mas livre mesmo e o vento, vento que não se prende e vai aos quatro quantos.
Livre, mas livre mesmo e o sorriso da criança, sorriso que se solta e vai a vista de todos.
Livre, mas livre mesmo e a imaginação, imaginação que voa e vai do íntimo ao infinito.
Livre, mas livre mesmo e a chuva, chuva que cai e vai do céu ao léu e molha o véu.

Deveria livre ser a crença e toda a fé valer e todo homem libertar.
Deveria livre ser o amor e a todos contagiar e para todos valer. 
Deveria livre ser a paz e a todos valer e todo homem inundar.
Deveria livre ser a alegria e a todos satisfazer e para o mundo valer.

Primeiras publicações:

Hipopótamos Multicores.


          Era um dia cinza, e esse tom predominava nas pessoas que passavam por nós, autômatos sem sorrir, todos fitos em seus destinos, andavam como se não houvesse ninguém a sua volta, nem flor, nem gente, apenas pés e uma implacável vontade de chegar. Uma moça e um moço que por descuido se chocam, e nesse momento tem se a impressão que por uma leve fração de segundos eles deixam de ser cinza, os rostos se coram, um pequeno brilho em seus olhos, mas esse momento passa, voltam a ser taciturnos autômatos, cinza, cinza, cinza.

           E a mim resta o medo, o medo de ser cinza também, de apenas andar, andar, andar, sem saber exatamente para onde estamos indo, apenas indo. Nesse momento minha pequena apertar com força minha mão, sinto que meu medo é seu medo, ela, eu, cinza não queremos tornar, ela com seu jeito sorri e de seu sorriso brota um arco-íris, que nos guia até o refúgio de um banco de praça.

          E nesse banco brincamos de faz de conta, faz de conta que o hipopótamo se equilibra no fio de eletricidade, faz de conta que ele acha graça disso tudo, ri desse cinza todo e seu riso multicor imunda a praça e a transforma em oásis no meio de um mar de cinza. Sacamos de um chiclete e começamos a brincar de bolinhas de chiclete.

          E sopramos nossas bolas, cada vez mais, e elas crescem, crescem, crescem tanto que elas nos levantam e nelas voamos, estamos dentro delas, voando vemos que por todos os fios de eletricidade existem hipopótamos multicores que transformam o cinza do dia em arco-íris, e as pessoas sorriem, e parecem que todos se amam como irmãos. Nisso uma leve brisa nos leva de novo ao banco da praça e plock, nossas bolas de chiclete estouram, nos levantamos e seguimos nosso caminho por um mundo menos cinza, com alguns hipopótamos multicores se equilibrando em fios elétricos.

Primeiras publicações:

Toda Dor


Quando escrevo meu coração não é meu.
Quando escrevo meu coração não é um.
Quando escrevo meu peito cresce, transcende.
Quando escrevo tenho em meu peito, seu coração.
Quando escrevo, o meu, o seu, de seu irmão, do irmão de seu                irmão e de seu vizinho.
Todos batem em meu peito.
Meu sentir já não é meu sentir.
Faço de seu sentir, meu sentir.
Minha dor já não é minha dor.
Faço de sua dor, minha dor.
Faço da dor de seu irmão.
Faço da dor do irmão de seu irmão.
Faço da dor de seu vizinho.
Faço de toda dor.
De toda dor que no mundo cabe.
Caber em meu coração.
Faço dela minha dor.
E nesse sentir escrevo.
Escrevo o que bate no peito de Maria, Martinha e Marília.
Escrevo a lágrima que verte de Verdinam, Virgulino e Virgínia.
O pesar da partida de Bartira, Berlinda e Beatriz.
Do peito a dor da lágrima da partida.
Que em meu peito refúgio tem.
Que em meu peito poema torna.

Primeiras publicações:

Alberto Caeiro


Autor: Fernando Pessoa
Editora: CEDIC

          Alberto Caeiro é um dos heterônimos desse fantástico poeta, sorver desse cálice e se sentir sentado no sopé de uma montanha, e olhando para os campos, e olhando para os rios, e olhando para os homens, e olhando para o além disso, olhando para alma dos homens.

       Uma poesia de construção simples, de leitura confortável, mas com uma profunda filosofia, que olha e analisa as questões da vida com filosofia pura, que encara a vida como a vida se mostra. Uma flor é uma flor, e isso somente deve bastar para que seje bela, não preciso rebuscá-la, pintar o que ela não é.

          Após a leitura desse livro, fico me devendo a leitura de seus outros heterônimos; Ricardo Reis e Álvaro de Campos. 

Primeiras publicações:

Quatro Linhas


Hoje me sinto tão preso quanto antes.
Tão preso como o vento que não tem pra onde ir.
Tão preso como o rio que vira lago.
Tão preso como areia em ampulheta.
Hoje me sinto tão preso como ontem.
Quando abri a janela, tentei abrir e descobri.
Descobri que meu mundo cabe em quatro linhas.
Uma janela eu desenho em quatro linhas.
Uma muralha eu desenho em quatro linhas.
Uma TV em quatro linhas eu desenho.
E com ela mais preso me sentir irei.
Sem sorrir eu sigo.
Sem sentir não.
Sentir é meu respirar.
Sentir é a borracha para quatro linhas apagar.
Para TV deixar.
Para janela abrir.
Para muralha cair.
Para o vento ir.
Para o rio fluir.
Para areia cair.
E eu livre seguir.

Primeiras publicações:

Lembranças.


          Hoje acordei com saudades do passado, com aquela vontade de esticar essas canelas, que vez por outra, anseiam por serem esticadas. Lentamente me levanto, agindo assim evito aquela dor infernal nas costas, finco meus pés no chão, sinto o frio que ele emana, melancolicamente olha para o lado vazio da cama, que saudades, já faz dez anos que ela foi ter com seus ancestrais. Levanto e me dirijo até o banheiro, lavo o rosto, passo o creme de barbear, a gilete de cima para baixo, na região do pescoço de baixo para cima, lavo o rosto, escovo os dentes, o ritual se repete há tantas décadas. Acho que foi ontem, isso mesmo, ontem, 89 anos, como é difícil chegar até aqui e seguir.

             O dia está ensolarado, maravilhoso, vibrante, como há muito tempo não o sinto e me sinto como um moço, que está descobrindo o mundo. Passo por uma rua e minhas lembranças me dizem; a escola onde estudei ficava aqui, olho para o local e vejo um prédio grande, imponente, que abriga uma secretária qualquer. Passo por outra lembrança, e vejo o local que abrigava a maternidade que meus filhos nasceram, hoje um conjunto residencial de alto padrão, o vigia me olha desconfiado por notar meu interesse, sigo adiante, a cada passo me deparo com uma memória que suas marcas no mundo não existem mais, foram deletadas. O único lugar que existe e parece persistir ao tempo é o cemitério, onde enterrei minha querida companheira, e meu filho, essas lembranças parecem arrancar algo de meu peito e isso aumenta minha angustia.

        O dia segue e lentamente me conduz a minha toca, quando chego ligo para um filho, outro, outro, todos tão ocupados, olho para as paredes e sinto meu caustro, antes do dia se recolher olho pela janela e vejo um pequeno pássaro, que para no ar e parece me fitar, compartilhar de minha solidão, ele assim como eu seguimos nosso seu destino, me preparo para dormir, e para me levantar e dormir e levantar...

Primeiras publicações:

O Homem Nu


Autor: Fernando Sabino
Editora: Círculo do Livro

          Ler este livro e como estar com um velho amigo, aquele que nos faz rir muito, em uma tarde de sábado tomando um tiquim de café com um bucadim de pão de queijo, o trem bom só.

        Sabe aquele dia em que tudo deu errado, e nesse dia você chega em casa, e precisa desesperadamente de um refugio, algo que o faça esquecer, algo que o relaxe, esse livro é o companheiro ideal para esse momento. É composto por crônica engraçadíssimas, ou historietas como prefere o autor.
A única exceção é a última crônica, onde o autor nos leva a reflexão, sobre a solidão, sobre a vida. Grande Sabino nos alivia e depois nos lembra que a vida cobra seu preço e segue em frente.

Primeiras publicações:

Bruce Gabriel


                  Normalmente fincamos nossos olhos no futuro, mas nesta manhã antes de levantar me lembrei dos acontecimentos passados. Fecho os olhos para que a sensação de estar lá seja mais forte.

                  Levanto-me cedo e saio correndo para não perder a hora, quero dar uma passadinha no hospital antes de começar o batente. Ao chegar, conversamos sobre a chegada de nosso primeiro filho, das dificuldades da vida, o menino, as mazelas da vida, o menino, o hospital, o menino, a chegada, o menino.

                  Saio, e ao sair fico com a sensação de querer ficar, participar mais. Mas o dia a dia me chama, nos chama, eu, você, a todos. O dia segue seu correr, e nele me fixo para que a ansiedade não me consuma. Vou para a faculdade, hoje tenho prova. Ao sair da prova dou uma ligadinha para o hospital, a enfermeira me atende, e pelo tom de minha voz, sou facilmente identificado como; um futuro papai de primeira viajem, ela logo se simpatiza com minha natural inexperiência, e tasca: “É hoje, não deve demorar mais que 2 horas, se você não demorar a chegar, deixo ver a criança”.

                  Desembestado saio a procurar, e me meto no primeiro táxi que vejo, explico a situação. O moço veste seu quepe de aviador, olha para um lado, olha para o outro, para ter a certeza que não havia ninguém vendo, alçamos vôo. Lá de cima vejo tudo pequeno, parecem pequenas formigas. Chegamos ao hospital, como se não houvesse trânsito, faróis, nem distância a nos separar. 

                  Ao chegar a enfermeira; “já está para começar, escreve um bilhete ai!”. A caneta, o papel, o pensar, não sei como começar, queria lá estar, o nervosismo, quase não consigo escrever, parece que levei duas eternidades para mandar o tal bilhete, mas lá se foi ele. Começo uma briga com o relógio, eu olho e ele tic, olho para o corredor ele tac, tic tac, olho em volta e ninguém, e ele tic tac, segundos, minutos, tic tac, tic tac e tic tac.

                  A tal enfermeira; “ele nasceu, parabéns é um belo menino vai ficar na luz, quer vê-lo?”. Ora que pergunta, se quero vê-lo, ninguém vem e lhe pergunta; se você quer respirar, se você quer enxergar, ou coisa parecida. Sou levando a uma sala, que dá numa sala, onde visto uma indumentária que me faria passar por um desses doutores que salvam vidas. Quando entro, parece que não existe mais nada, nada vejo, nada ouço, naquele momento, existe apenas aquele pequeno grande menino, que abre sua pequena boca e parece querer soltar todo o ar que existe no mundo, chora copiosamente, assustado embaixo daquela luz a fustigá-lo, chego perto, e o pego, pego como quem pega uma preciosidade, com o cuidado daqueles que nunca tiveram uma joia de raro valor nas mãos, o seguro, quando começo a falar, ao som de minha voz, o choro se dissipa, ele abre seus pequenos olhos, para de chorar e se compenetra no som de minha voz, começamos um dialogo monologo, e falamos sobre a vida, sobre nossa vida, sobre sua vida, e assim falamos por minutos, por horas, os dias passam, nossa conversa parece não ter fim.

                  Em um dado momento fecho os olhos, escuto o som do despertador e sou arremessado de volta ao presente. Olho para o relógio e me levanto correndo para não perder a hora.

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