Era um dia cinza, e esse tom predominava nas pessoas que passavam por nós, autômatos sem sorrir, todos fitos em seus destinos, andavam como se não houvesse ninguém a sua volta, nem flor, nem gente, apenas pés e uma implacável vontade de chegar. Uma moça e um moço que por descuido se chocam, e nesse momento tem se a impressão que por uma leve fração de segundos eles deixam de ser cinza, os rostos se coram, um pequeno brilho em seus olhos, mas esse momento passa, voltam a ser taciturnos autômatos, cinza, cinza, cinza.
E a mim resta o medo, o medo de ser cinza também, de apenas andar, andar, andar, sem saber exatamente para onde estamos indo, apenas indo. Nesse momento minha pequena apertar com força minha mão, sinto que meu medo é seu medo, ela, eu, cinza não queremos tornar, ela com seu jeito sorri e de seu sorriso brota um arco-íris, que nos guia até o refúgio de um banco de praça.
E nesse banco brincamos de faz de conta, faz de conta que o hipopótamo se equilibra no fio de eletricidade, faz de conta que ele acha graça disso tudo, ri desse cinza todo e seu riso multicor imunda a praça e a transforma em oásis no meio de um mar de cinza. Sacamos de um chiclete e começamos a brincar de bolinhas de chiclete.
E sopramos nossas bolas, cada vez mais, e elas crescem, crescem, crescem tanto que elas nos levantam e nelas voamos, estamos dentro delas, voando vemos que por todos os fios de eletricidade existem hipopótamos multicores que transformam o cinza do dia em arco-íris, e as pessoas sorriem, e parecem que todos se amam como irmãos. Nisso uma leve brisa nos leva de novo ao banco da praça e plock, nossas bolas de chiclete estouram, nos levantamos e seguimos nosso caminho por um mundo menos cinza, com alguns hipopótamos multicores se equilibrando em fios elétricos.
Primeiras publicações:
paulinoalexandre.spaceblog.com.br : 22/10/2011
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