sábado, 13 de julho de 2013

Lembranças.


          Hoje acordei com saudades do passado, com aquela vontade de esticar essas canelas, que vez por outra, anseiam por serem esticadas. Lentamente me levanto, agindo assim evito aquela dor infernal nas costas, finco meus pés no chão, sinto o frio que ele emana, melancolicamente olha para o lado vazio da cama, que saudades, já faz dez anos que ela foi ter com seus ancestrais. Levanto e me dirijo até o banheiro, lavo o rosto, passo o creme de barbear, a gilete de cima para baixo, na região do pescoço de baixo para cima, lavo o rosto, escovo os dentes, o ritual se repete há tantas décadas. Acho que foi ontem, isso mesmo, ontem, 89 anos, como é difícil chegar até aqui e seguir.

             O dia está ensolarado, maravilhoso, vibrante, como há muito tempo não o sinto e me sinto como um moço, que está descobrindo o mundo. Passo por uma rua e minhas lembranças me dizem; a escola onde estudei ficava aqui, olho para o local e vejo um prédio grande, imponente, que abriga uma secretária qualquer. Passo por outra lembrança, e vejo o local que abrigava a maternidade que meus filhos nasceram, hoje um conjunto residencial de alto padrão, o vigia me olha desconfiado por notar meu interesse, sigo adiante, a cada passo me deparo com uma memória que suas marcas no mundo não existem mais, foram deletadas. O único lugar que existe e parece persistir ao tempo é o cemitério, onde enterrei minha querida companheira, e meu filho, essas lembranças parecem arrancar algo de meu peito e isso aumenta minha angustia.

        O dia segue e lentamente me conduz a minha toca, quando chego ligo para um filho, outro, outro, todos tão ocupados, olho para as paredes e sinto meu caustro, antes do dia se recolher olho pela janela e vejo um pequeno pássaro, que para no ar e parece me fitar, compartilhar de minha solidão, ele assim como eu seguimos nosso seu destino, me preparo para dormir, e para me levantar e dormir e levantar...

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