sábado, 27 de julho de 2013

Querendo querer

Foto montagem de imagens obtidas na net (FhotoShop)


          Não quero, o querer.
          Esse querer, que anda por ai
          Como um sem querer, que sai por ai
          Esbarra em meu querer e lhe toma por ai

          Que lhe envolve e não lhe devolve,
          Que me emudece que me entristece, 
          Que lhe espreita e não lhe respeita,
          Que me embrutece, que me endurece.

          Não quero que seu querer
          Esse querer que anda por ai,
          Como um querer, que sai por ai,
          Esbarra noutro querer e lhe tomo por ai.

          Que lhe emudece e pode lhe entristecer,
          Que me envolve pois não me devolve ,
          Que lhe embrutece e pode lhe endurecer,
          Que me espreita pois não me respeita.

          Não quero que meu querer,
          Esse querer, que anda por ai
          Como outro querer, que sai por ai
          Esbarra sem querer, onde não há querer.


Escrito em 21/09/2008

sábado, 20 de julho de 2013

Inquebrável

Foto montagem de algumas pessoas que participam do projeto.


          Sempre enxerguei o ato sexual como uma comunhão entre duas pessoas, estar dentro de outra pessoa como a maior intimidade que pode ser oferecida, as sensações, os odores, os sabores, a troca de carinho, tudo caminhando para uma erupção em que ambos possam compartilhar da criação de um momento único e poderá transformar-se em sequências de momentos únicos.

          E quando o ato sexual é fruto de uma violência, quando utilizando de força bruta um indivíduo force outra pessoa ao ato, imagino que esse momento deva deixar cicatrizes que devam acompanhar a pessoa por toda sua vida, a forma como a sociedade passe a encarar a pessoa, com pena, com reprovação, com outros olhos. Acredito que via de regra a pessoa procure se esconder, esconder o que acorreu e com isso obter um conforto mesmo que não verdadeiro, mas isso também protege o agressor, a impunidade deve incentivar a continuidade da violência, que outras vítimas possam sofrer nas mãos do agressor.

          O projeto Unbreakable (inquebrável), da fotografa norte americana Grace Brown, busca exatamente a quebra do silêncio, nele pessoas que sofreram esse tipo de violência se deixam fotografar com cartazes onde dizeres dos agressores no momento da violência são mostrados, acho que uma maneira de continuar a vida seja enfrentando os problemas apresentados por ela, parabéns a Grece Brown pela iniciativa e principalmente parabéns aos participantes pela coragem de mostrar ao mundo a face da violência, mostrar ao mundo sua face e mostrar que são fortes, que são inquebráveis.




sábado, 13 de julho de 2013

Orgulho, Calo, Fronteira...


Meu orgulho ferido fere seu orgulho, que ferido, meu orgulho ferir vai.
Seu calo que pisado foi, agora pisar um calo procurar vai.
A fronteira que invadida no ontem foi, no hoje retomada a força de baionetas e sangue foi.
A cada círculo formado, um novo circulo iniciar vai.
Orgulho, calo ou fronteira, nada importa.
Importa mesmo é o poder.
Poder de seu orgulho ferir.
Poder de seu calo pisar.
Poder de sua fronteira invadir.
Poder de minha baioneta desembainhar.
Poder de seu sangue derramar.
Mas importar, importar mesmo, é o poder.
Poder para o orgulho engolir e perdoar.
Poder para depois do calo pisado, os pés de seu oponente lavar.
Poder para seu território recuperar sem sangue derramar.
Poder para todos unidos estarmos.
E juntos seguirmos para o futuro.
Futuro que fronteiras não existam.
Existam apenas homens livres.

Primeira publicação:

Inspiração


          Acordo no meio da noite, lentamente abre meus olhos e fito o teto, pensamentos conturbados vindos do cotidiano me assolam, o que fazer, para onde foi ele o sono, levanto, uma folha em branco, um lápis, a inspiração onde está?

          Eu e o lápis iniciamos nosso trabalho, neste momento ele vem, vem como sempre vem, sem avisar, apenas vem, como sempre devagar me toma, como toma você, como toma ele, eles, elas, a todos, meus olhas vão lentamente se fechando, justo agora, agora que escrever ia, ele o sono me vem, chega e me leva ao mundo dos que acordados não estão.

          Neste momento do lápis dois pequenos braços brotam, e esses dois pequenos membros começam seu esforço para de meus dedos se libertar, primeiro um braço, depois o outro, suas pequenas mãos se apoiam em meus dedos e empurram seu esguio corpo de lápis para cima, um, dois, de novo, de novo, força, força, força que forma toma até que se faz livre. Da folha dois olhos brotam, uma boca, quem diria o lápis olhos e boca também têm, e os dois iniciam algo sul real.

          “- Ele dormiu.”

          “- Sim, dormiu.”

          Ambos piscam e seu trabalha inicio tem, a folha sobre a mesa, o lápis sobre a folha, escrevem, contam uma história de uma terra distante, mágica, falam do amor, das pessoas, da brisa soprando que leva os sonhos a experiências extraordinárias, levam suas personagens aos labirintos da vida...

          Acordo com um leve incomodo no pescoço, abro meus olhos e fito a folha sobre a mesa, o lápis sobre a folha, imóvel como um lápis deve ser, pego a folha que preenchida está, leio, releio, gosto do que vejo, apesar de não me lembrar de ter escrito nada, talvez a sonolência inspiração me deu. Deixo a folha e lápis sobre a mesa e me dirijo para a cama, para meu sono terminar. 

Primeiras publicações:

Espírito


Ouvi dizer, mas onde está?
Corri o mundo e muito pouco achei.
Fui aqui e acolá e nada achei.
Falaram-me, mas não encontrei.
Encontrei sede de consumo.
Uma grande corrida.
Quem tinha e podia gastar ia.
O desejo corria, se afastar ia.
Quem tinha e queria, comprar ia.
O desejo sentia, se ganhar ia.
Onde está? Se tanto ouvi dizer.
Muito pouco achei e o mundo corri.
Nada achei, e fui aqui e acolá.
Não encontrei, mas me falaram.
Falaram de amor, pouco vi.
Falaram de respeito, só falta senti.
Falaram de paz, guerra vi.
Falaram de afeto, só vazio senti.
E se você o espírito do Natal achar.
Abra você o coração para ele entrar.
Sinta você todo amor que ele lhe dar
Sinta você toda paz que ele lhe ofertar
Sinta você todo respeito que ele lhe ensinar.
Sinta você todo afeto que ele lhe acercar.
Mas você guardar não vai
O espírito de Natal, livre deve ser.
E assim passe ele.
Abrace a mim, seu irmão, seu vizinho.
Abrace seu amigo e seu inimigo
E dele faça seu amigo.
E assim o Natal feliz será.

Primeiras publicações:

Democracia Corinthiana.


       Nos últimos dias dois fatos marcaram a nação Corinthiana, fomos pentas campeões...

             E perdemos o Dr. Sócrates, poderia citar que um atleta não deveria beber, que beber faz mal a saúde, blá, blá, blá, isto me lançaria ao lugar comum, seria mais uma vez dizer o fácil, o que todos dizem, o que todos sabem, prefiro lembrar que somos todos humanos, e como humanos somos cheios de defeitos e vícios, que devemos sim lutar contra eles, dia a dia, mas os temos.

                 E neste momento gostaria de lembrar que o gênio do calcanhar, integrou um movimento que tirou do dicionário uma palavra em desuso na época, uma palavra que extrapola seu próprio significado; governo para o povo. Mas também traz em seu bojo o peso de dizer que ninguém, ninguém, mas ninguém pode decidir pensar pelos outros, sem que tenha sido autorizado pelos outros e com regras claras e pré estabelecidas.

                Gostaria de deixar aqui minha humilde homenagem ao homem que com seus defeitos e virtudes deixou sua marca na história, um forte abraço Dr. Sócrates e boa sorte em sua nova jornada.

Primeiras publicações:

Partida


Seu coração ansiava por partir.
E partiu, como quem abraça a vida e segue por seus caminhos.
Partiu e assim partiu o coração de sua velha mãe.
Partindo também o coração de seu velho pai.
Corações já tão partidos, por tantas outras partidas.
Mas seu coração ansiava por partir.
E partindo ansiava por outros ares.
Partiu e assim partiu o coração da jovem moça.
Partindo também seus sonhos, uma casinha, filhos, flores.
Sonhos que ficam confinados nos confins de seu coração. 
Sonhos, que ficam partidos nos confins de seu coração. 
Esperando quem sabe por outro coração que os realize, ou os partam novamente.
E seu coração ansiava por partir.
E partindo seu coração ansiava por outros lugares.
E partiu, partindo as possibilidades que sua pequena cidade lhe ofertava.
E se foi, partiu para abraçar os caminhos e descaminhos da vida.
E partindo se partiram as linhas que traçavam seu destino.
Linhas que dele faziam marionete.
E se foi.

PS: Este poema faz parte de uma trilogia (Partida, Chegada e Retorno)

Primeiras publicações:

A Arte da Guerra


Autor: Sun Tzu
Editora: Ciranda Cultural

          É verdade que esse livro traça estratégias de combate, leva em consideração a topografia e sua importância em batalhas, fala de pessoas e seus perfis de comando, dos preparativos para se entrar em guerra, quando devemos atacar e quando não devemos atacar, das qualidades que um general deve ter, como elevar a moral da tropa, de escolas em relação ao armamento, quantidade de soldados, suprimentos e seu transporte, espionagem e suas variáveis, entre outras coisas.
 
          Nesta questão o livro é muito bom, e isso com certeza é um pleonasmo, se ele não fosse muito bom ele não teria atravessado os séculos (alguns relatos dão conta de que Sun Tzu morreu em 496 a.C.). 

         Mas também é verdade que podemos traçar um paralelo entre administrar uma empresa e a arte de se fazer guerra, em relação a isto, este livro tem sido muito usado, mas também podemos aplicar alguns de seus conselhos para realizar qualquer projeto. 

          O livro vale pelo menos pelo prazer de sua leitura, é um livro direto em que as informações são apresentadas de forma clara, quase como se estivéssemos travando uma conversa com alguém que quer nos ensinar. 

Primeiras publicações:

Livre


Queria ser livre, livre como a pipa, mas a pipa não é livre, está presa a linha, está presa ao     
             vento.
Queria ser livre, livre como a pomba, mas a pomba não é livre, está presa a gravidade, está    
             presa aos seus.
Queria ser livre, livre como o rico, mas o rico não é livre, está preso a riqueza, está preso a 
             pompa.
Queria ser livre, livre como a vida, mas a vida não é livre, está presa ao tempo, está presa a 
             morte.

Livre, mas livre mesmo e o vento, vento que não se prende e vai aos quatro quantos.
Livre, mas livre mesmo e o sorriso da criança, sorriso que se solta e vai a vista de todos.
Livre, mas livre mesmo e a imaginação, imaginação que voa e vai do íntimo ao infinito.
Livre, mas livre mesmo e a chuva, chuva que cai e vai do céu ao léu e molha o véu.

Deveria livre ser a crença e toda a fé valer e todo homem libertar.
Deveria livre ser o amor e a todos contagiar e para todos valer. 
Deveria livre ser a paz e a todos valer e todo homem inundar.
Deveria livre ser a alegria e a todos satisfazer e para o mundo valer.

Primeiras publicações:

Hipopótamos Multicores.


          Era um dia cinza, e esse tom predominava nas pessoas que passavam por nós, autômatos sem sorrir, todos fitos em seus destinos, andavam como se não houvesse ninguém a sua volta, nem flor, nem gente, apenas pés e uma implacável vontade de chegar. Uma moça e um moço que por descuido se chocam, e nesse momento tem se a impressão que por uma leve fração de segundos eles deixam de ser cinza, os rostos se coram, um pequeno brilho em seus olhos, mas esse momento passa, voltam a ser taciturnos autômatos, cinza, cinza, cinza.

           E a mim resta o medo, o medo de ser cinza também, de apenas andar, andar, andar, sem saber exatamente para onde estamos indo, apenas indo. Nesse momento minha pequena apertar com força minha mão, sinto que meu medo é seu medo, ela, eu, cinza não queremos tornar, ela com seu jeito sorri e de seu sorriso brota um arco-íris, que nos guia até o refúgio de um banco de praça.

          E nesse banco brincamos de faz de conta, faz de conta que o hipopótamo se equilibra no fio de eletricidade, faz de conta que ele acha graça disso tudo, ri desse cinza todo e seu riso multicor imunda a praça e a transforma em oásis no meio de um mar de cinza. Sacamos de um chiclete e começamos a brincar de bolinhas de chiclete.

          E sopramos nossas bolas, cada vez mais, e elas crescem, crescem, crescem tanto que elas nos levantam e nelas voamos, estamos dentro delas, voando vemos que por todos os fios de eletricidade existem hipopótamos multicores que transformam o cinza do dia em arco-íris, e as pessoas sorriem, e parecem que todos se amam como irmãos. Nisso uma leve brisa nos leva de novo ao banco da praça e plock, nossas bolas de chiclete estouram, nos levantamos e seguimos nosso caminho por um mundo menos cinza, com alguns hipopótamos multicores se equilibrando em fios elétricos.

Primeiras publicações:

Toda Dor


Quando escrevo meu coração não é meu.
Quando escrevo meu coração não é um.
Quando escrevo meu peito cresce, transcende.
Quando escrevo tenho em meu peito, seu coração.
Quando escrevo, o meu, o seu, de seu irmão, do irmão de seu                irmão e de seu vizinho.
Todos batem em meu peito.
Meu sentir já não é meu sentir.
Faço de seu sentir, meu sentir.
Minha dor já não é minha dor.
Faço de sua dor, minha dor.
Faço da dor de seu irmão.
Faço da dor do irmão de seu irmão.
Faço da dor de seu vizinho.
Faço de toda dor.
De toda dor que no mundo cabe.
Caber em meu coração.
Faço dela minha dor.
E nesse sentir escrevo.
Escrevo o que bate no peito de Maria, Martinha e Marília.
Escrevo a lágrima que verte de Verdinam, Virgulino e Virgínia.
O pesar da partida de Bartira, Berlinda e Beatriz.
Do peito a dor da lágrima da partida.
Que em meu peito refúgio tem.
Que em meu peito poema torna.

Primeiras publicações:

Alberto Caeiro


Autor: Fernando Pessoa
Editora: CEDIC

          Alberto Caeiro é um dos heterônimos desse fantástico poeta, sorver desse cálice e se sentir sentado no sopé de uma montanha, e olhando para os campos, e olhando para os rios, e olhando para os homens, e olhando para o além disso, olhando para alma dos homens.

       Uma poesia de construção simples, de leitura confortável, mas com uma profunda filosofia, que olha e analisa as questões da vida com filosofia pura, que encara a vida como a vida se mostra. Uma flor é uma flor, e isso somente deve bastar para que seje bela, não preciso rebuscá-la, pintar o que ela não é.

          Após a leitura desse livro, fico me devendo a leitura de seus outros heterônimos; Ricardo Reis e Álvaro de Campos. 

Primeiras publicações:

Quatro Linhas


Hoje me sinto tão preso quanto antes.
Tão preso como o vento que não tem pra onde ir.
Tão preso como o rio que vira lago.
Tão preso como areia em ampulheta.
Hoje me sinto tão preso como ontem.
Quando abri a janela, tentei abrir e descobri.
Descobri que meu mundo cabe em quatro linhas.
Uma janela eu desenho em quatro linhas.
Uma muralha eu desenho em quatro linhas.
Uma TV em quatro linhas eu desenho.
E com ela mais preso me sentir irei.
Sem sorrir eu sigo.
Sem sentir não.
Sentir é meu respirar.
Sentir é a borracha para quatro linhas apagar.
Para TV deixar.
Para janela abrir.
Para muralha cair.
Para o vento ir.
Para o rio fluir.
Para areia cair.
E eu livre seguir.

Primeiras publicações:

Lembranças.


          Hoje acordei com saudades do passado, com aquela vontade de esticar essas canelas, que vez por outra, anseiam por serem esticadas. Lentamente me levanto, agindo assim evito aquela dor infernal nas costas, finco meus pés no chão, sinto o frio que ele emana, melancolicamente olha para o lado vazio da cama, que saudades, já faz dez anos que ela foi ter com seus ancestrais. Levanto e me dirijo até o banheiro, lavo o rosto, passo o creme de barbear, a gilete de cima para baixo, na região do pescoço de baixo para cima, lavo o rosto, escovo os dentes, o ritual se repete há tantas décadas. Acho que foi ontem, isso mesmo, ontem, 89 anos, como é difícil chegar até aqui e seguir.

             O dia está ensolarado, maravilhoso, vibrante, como há muito tempo não o sinto e me sinto como um moço, que está descobrindo o mundo. Passo por uma rua e minhas lembranças me dizem; a escola onde estudei ficava aqui, olho para o local e vejo um prédio grande, imponente, que abriga uma secretária qualquer. Passo por outra lembrança, e vejo o local que abrigava a maternidade que meus filhos nasceram, hoje um conjunto residencial de alto padrão, o vigia me olha desconfiado por notar meu interesse, sigo adiante, a cada passo me deparo com uma memória que suas marcas no mundo não existem mais, foram deletadas. O único lugar que existe e parece persistir ao tempo é o cemitério, onde enterrei minha querida companheira, e meu filho, essas lembranças parecem arrancar algo de meu peito e isso aumenta minha angustia.

        O dia segue e lentamente me conduz a minha toca, quando chego ligo para um filho, outro, outro, todos tão ocupados, olho para as paredes e sinto meu caustro, antes do dia se recolher olho pela janela e vejo um pequeno pássaro, que para no ar e parece me fitar, compartilhar de minha solidão, ele assim como eu seguimos nosso seu destino, me preparo para dormir, e para me levantar e dormir e levantar...

Primeiras publicações:

O Homem Nu


Autor: Fernando Sabino
Editora: Círculo do Livro

          Ler este livro e como estar com um velho amigo, aquele que nos faz rir muito, em uma tarde de sábado tomando um tiquim de café com um bucadim de pão de queijo, o trem bom só.

        Sabe aquele dia em que tudo deu errado, e nesse dia você chega em casa, e precisa desesperadamente de um refugio, algo que o faça esquecer, algo que o relaxe, esse livro é o companheiro ideal para esse momento. É composto por crônica engraçadíssimas, ou historietas como prefere o autor.
A única exceção é a última crônica, onde o autor nos leva a reflexão, sobre a solidão, sobre a vida. Grande Sabino nos alivia e depois nos lembra que a vida cobra seu preço e segue em frente.

Primeiras publicações:

Bruce Gabriel


                  Normalmente fincamos nossos olhos no futuro, mas nesta manhã antes de levantar me lembrei dos acontecimentos passados. Fecho os olhos para que a sensação de estar lá seja mais forte.

                  Levanto-me cedo e saio correndo para não perder a hora, quero dar uma passadinha no hospital antes de começar o batente. Ao chegar, conversamos sobre a chegada de nosso primeiro filho, das dificuldades da vida, o menino, as mazelas da vida, o menino, o hospital, o menino, a chegada, o menino.

                  Saio, e ao sair fico com a sensação de querer ficar, participar mais. Mas o dia a dia me chama, nos chama, eu, você, a todos. O dia segue seu correr, e nele me fixo para que a ansiedade não me consuma. Vou para a faculdade, hoje tenho prova. Ao sair da prova dou uma ligadinha para o hospital, a enfermeira me atende, e pelo tom de minha voz, sou facilmente identificado como; um futuro papai de primeira viajem, ela logo se simpatiza com minha natural inexperiência, e tasca: “É hoje, não deve demorar mais que 2 horas, se você não demorar a chegar, deixo ver a criança”.

                  Desembestado saio a procurar, e me meto no primeiro táxi que vejo, explico a situação. O moço veste seu quepe de aviador, olha para um lado, olha para o outro, para ter a certeza que não havia ninguém vendo, alçamos vôo. Lá de cima vejo tudo pequeno, parecem pequenas formigas. Chegamos ao hospital, como se não houvesse trânsito, faróis, nem distância a nos separar. 

                  Ao chegar a enfermeira; “já está para começar, escreve um bilhete ai!”. A caneta, o papel, o pensar, não sei como começar, queria lá estar, o nervosismo, quase não consigo escrever, parece que levei duas eternidades para mandar o tal bilhete, mas lá se foi ele. Começo uma briga com o relógio, eu olho e ele tic, olho para o corredor ele tac, tic tac, olho em volta e ninguém, e ele tic tac, segundos, minutos, tic tac, tic tac e tic tac.

                  A tal enfermeira; “ele nasceu, parabéns é um belo menino vai ficar na luz, quer vê-lo?”. Ora que pergunta, se quero vê-lo, ninguém vem e lhe pergunta; se você quer respirar, se você quer enxergar, ou coisa parecida. Sou levando a uma sala, que dá numa sala, onde visto uma indumentária que me faria passar por um desses doutores que salvam vidas. Quando entro, parece que não existe mais nada, nada vejo, nada ouço, naquele momento, existe apenas aquele pequeno grande menino, que abre sua pequena boca e parece querer soltar todo o ar que existe no mundo, chora copiosamente, assustado embaixo daquela luz a fustigá-lo, chego perto, e o pego, pego como quem pega uma preciosidade, com o cuidado daqueles que nunca tiveram uma joia de raro valor nas mãos, o seguro, quando começo a falar, ao som de minha voz, o choro se dissipa, ele abre seus pequenos olhos, para de chorar e se compenetra no som de minha voz, começamos um dialogo monologo, e falamos sobre a vida, sobre nossa vida, sobre sua vida, e assim falamos por minutos, por horas, os dias passam, nossa conversa parece não ter fim.

                  Em um dado momento fecho os olhos, escuto o som do despertador e sou arremessado de volta ao presente. Olho para o relógio e me levanto correndo para não perder a hora.

Primeiras publicações:

A Sabedoria do Coração


Autor: Henry Miller
Editora: L&PM Editores

          Neste livro Henry Miller escreve ensaios sobre personalidades como D. H. Lawrence escritor e amigo, Honoré de Balzac, E. Graham Howe psiquiatra inglês, Jules Miraire ator francês, Hans Reichel pintor, Hermann Alexander Graf Von Keyserling filósofo alemão, Frederic Sauser Hall escritor, Brassai (Gyula Halász) fotografo. São textos muito bons, em que somos transportados a visão desse americano, que adotou a Europa como 2º pátria.

                  Mas gostaria de ressaltar “Reflexões sobre a arte de escrever”, onde temos uma aula de como escrever, ele traça uma linha entre monstros dessa arte, sua reflexões e conclusões sobre essa arte, que ele conhecia tão bem.

                Além desse o “O Veterano alcoólatra com crânio de tábua de lavar roupa”, onde Henry Miller narra o encontro com um ilustre desconhecido, uma fantástica crônica, não consegui desgrudar do livro até terminá-la, e fiquei com a impressão de que se mesclou um esbarrão do destino, com sua vida e história.

             Vale a pena aplicar um pouco de tempo, na leitura desse livro. 

Primeiras publicações:

É Sexta


É sexta...

          Que semana!

          O chefe aquele pé, as vendas que parecem não quererem sair, Sr. Antônio Ranzinza vem me cobrar os resultados, como se nos pobres mortais não os quiséssemos, o telefone toca, como querendo me salvar do inevitável, é minha noiva e lembra, é sexta, é dia de sairmos. O dia se arrasta, como se arrastou a semana, as visitas, o telefone, o relatório, o Sr. Antônio Ranzinza.

          É hora, faculdade que nada, saio com os amigos do serviço, umas cervejinhas antes de encontrar com a minha noivinha...

          Vou buscá-la na faculdade, vamos direto para nosso point, aquele barzinho da Vila Madalena, que noite incrível, tomo uma, outra, outra, me liberto, estou leve, me sinto um super homem, posso tudo.

          E já me vejo atrás do volante, tudo acontece tão rápido, sinto um solavanco. Meu carro para, o que pode ter ocorrido. Alguém me ajuda a sair do carro, uma mulher grita: “-Assassino”, como eu, isso é ridículo, minha noiva me empurra para dentro do táxi. Tudo isso deve ser um engano, escuto minha noiva falar que vai resolver tudo, e lentamente apago.

É sexta...

          Que semana!

         Tive uma ótima semana, tudo parecia dar certo, tinha acabado de ser admitido no emprego dos sonhos, pelo menos nos meus sonhos, aquilo era muita sorte, último ano de jornalismo, e consigo uma vaga de jornalista treeni, num dos maiores jornais da cidade, aquilo era simplesmente fantástico.

        Na faculdade combinamos de sair para comemorar, minha mãe, super mãe que é lasca: “-Nada de volante”, como sempre ela tem razão, como sempre eu a escuto, vou a pé.

          Que noite fantástica, tudo perfeito, aquele barzinho na Vila Madalena, a música, a bebida, as gatinhas, rimos muito, foi ótimo.

          O arzinho da manhã me faz um bem enorme, estou meio zonzo, mas a caminhada me faz bem. Sinto um baque, que dor enorme, sinto como se minha carne fosse arrancada de meus ossos, não consigo ver direito, como dói, tenho dificuldade em respirar, a dor, que dor, lentamente ela vai sumindo, frio, sinto muito frio, mas lentamente o frio vai passando. Agora me sinto leve, apenas uma sensação de perda, de um futuro que nunca vira, mas sinto que isso agora não importa mais.

Primeiras publicações:

Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas


Autor: Dale Carnegie
Editora: Editora Nacional

          Eu considero a indicação de leitura desse livro um presente que recebi, nele o autor Dale Carnegie, nos fala como as pessoas gostam de ser tratadas, e como pessoas que foram preeminentes lidavam com o fator humano, entre elas Abrão Lincoln, Theodore Roosevelt, coronel Edward Mandell House, e uma série de homens de negócios que utilizaram os conceitos deste livro na vida corporativa, e homens simples que aplicaram os ensinamentos desse livre na criação de seus filhos.

        Em diversos trechos do livro o autor prega uma mudança de atitude, e não simplesmente a utilização de técnicas para convencer pessoas (isso seria bem maquiavélico). Se você em sua vida deve tratar com pessoas, seja profissionalmente ou no âmbito pessoal, e gostaria que as pessoas lhe dessem o melhor de si, a leitura desse livro é fundamental.

Primeiras publicações:

Onde estão os sonhos?


        Encontramos-nos em um transporte público, já havíamos nos encontrados tantas outras vezes, mas era sábado, e no sábado os relógios parecem menos implacáveis, seguíamos nossos caminhos, mas era sábado e no sábado o ritmo parece adotar outra parecer, uma norma de conduta que nos oprima menos. Temos a sensação, parecemos que por um lapso de tempo, somos livres, senhores de nossos destinos.

                  O transporte chega a seu destino final, era sábado, e no sábado somos tomados pelo ar, ar que está lá todos os dias, mas no sábado temos a sensação que podemos um tiquinho mais que o habitual, que os compromissos, ficam em algum lugar entre a segunda e a sexta, e nestes momentos voltamos a nos sentir livres, livres como somente as crianças sabem se sentir.

                E ela fala, e de sua boca lentamente ela fala, fala como todo ser humano almeja falar, e ela espera encontrar um ouvido, que apenas a ouça, não espera ouvir um conselho, uma reprimenda, uma palavra de apoio, ela apenas quer saciar este desejo ardente de ser ouvida, com atenção, com carinho, quase com servidão.

             Sua vida vai saindo por sua boca, “- Sabe seu fulano...”. Ela fala de sua mocidade, dos sonhos de um mundo melhor, de sua participação num partido de esquerda há muito tempo esquecido. Fala da Faculdade de Comunicação que ela completou, mas não teve dinheiro para o canudo ou para o estágio. Fala de um homem que era o sonho de sua vida, mas que se foi, Fala do apartamento que perdeu, da casinha humilde que comprou, com muito esforço, muita luta, lá na divisa de não sei onde. Fala do destino ou será um não destino, que fez dela uma faxineira com formação universitária. E por fim fala, mas fala com amargura, que a vida, essa que é tão apregoada pelos poetas, não tem sentido, ela não existe, pois não existem mais sonhos, hoje nada mais almejo.

                  Nesse momento tento alcançar sua criança interior, ninguém melhor que uma criança para sonhar. Mas isso é em vão, nada do que eu possa dizer nesse momento ira lhe devolver o sonho, ela queria falar, falou, essa sua necessidade foi satisfeita, e por fim abre um radiante sorriso, como querendo agradecer, se despede e vai.

Primeiras publicações:
paulinoalexandre.spaceblog.com.br : 04/06/2011

O Chapéu Mexicano


Autor: Aldous Huxley
Editora: IBRASA – Insti. Brasileira de Difusão Cultural SA

          A uns meses atrás, em uma palestra corporativa, ouvi o palestrante chamar Aldous Huxley de filosofo. Acredito que isso seja devido a forma como ele trabalha seus romances, neles você observa a defesa de uma tese, um ponto de vista, ou a descrição romanceada de uma personagem histórica. Gosto muito do trabalho desse escritor, já li; Admirável Mundo Novo, O Regresso ao Admirável Mundo Novo, A Eminência Parda, Os Demônios de Lodun e agora Chapéu Mexicano, sei que a lista é pequena em função da extensa obra do autor.

          Chapéu Mexicano foi escrito no inicio da carreira de Aldous Huxley, são 6 contos que se ambientam na Europa, no período que antecede a 1º grande guerra e vão até um pouco depois de seu término, mas os contos não focam a guerra, eles focam as pessoas e suas relações de forma simples, são de uma leitura deliciosa, descompromissada.

Primeiras publicações:

Tempo


          Implacável e inflexível este senhor, desde nosso nascimento nos cobra de forma inexorável seu quinhão do dia a dia. A cada tic-tac dos nossos relógios, está lá, a cada batimento do nosso coração, lá esta. Do acordar ao acordar, não há como dele fugir.

          O tempo passa e passamos por ele preenchendo suas lacunas, utilizamos do nosso dito bom censo ao fazemos escolhas e escolhas muitas vezes nos são impostas, estas escolhas vão nos moldando, nos transformando, fazendo de nós o que somos. A cada passo percorremos a estrada da vida, percorremos os caminhos do tempo, hora nos aprisionando, hora nos libertamos.

          Gostaria de ser senhor do tempo, senhor de meu tempo, e livremente escolher o que dele fazer, mas nossa vida, nossa sociedade e nossas escolhas, nos tolhem esse direito. O trabalho, que quase sempre ferozmente devora grande parte de nosso tempo, e para quem vive em uma grande metrópole,  sabe que o ir e vir quase sempre e quem me dera que o quase fosse quase e não um grande sempre, consome de forma feroz seu quinhão de tempo, a nós sobrando tão pouco para prazeres inestimáveis, como o sentar embaixo de uma arvore e ouvir o tempo passar, ou visitar o blog de um bom amigo.

PS.: por favor a todos, que cobram seu quinhão do meu e do tempo e de todos os pobres seres humanos, me desculpe, nos desculpem, por esse tempo ser tão rarefeito.

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