Encontramos-nos em um transporte público, já havíamos nos encontrados tantas outras vezes, mas era sábado, e no sábado os relógios parecem menos implacáveis, seguíamos nossos caminhos, mas era sábado e no sábado o ritmo parece adotar outra parecer, uma norma de conduta que nos oprima menos. Temos a sensação, parecemos que por um lapso de tempo, somos livres, senhores de nossos destinos.
O transporte chega a seu destino final, era sábado, e no sábado somos tomados pelo ar, ar que está lá todos os dias, mas no sábado temos a sensação que podemos um tiquinho mais que o habitual, que os compromissos, ficam em algum lugar entre a segunda e a sexta, e nestes momentos voltamos a nos sentir livres, livres como somente as crianças sabem se sentir.
E ela fala, e de sua boca lentamente ela fala, fala como todo ser humano almeja falar, e ela espera encontrar um ouvido, que apenas a ouça, não espera ouvir um conselho, uma reprimenda, uma palavra de apoio, ela apenas quer saciar este desejo ardente de ser ouvida, com atenção, com carinho, quase com servidão.
Sua vida vai saindo por sua boca, “- Sabe seu fulano...”. Ela fala de sua mocidade, dos sonhos de um mundo melhor, de sua participação num partido de esquerda há muito tempo esquecido. Fala da Faculdade de Comunicação que ela completou, mas não teve dinheiro para o canudo ou para o estágio. Fala de um homem que era o sonho de sua vida, mas que se foi, Fala do apartamento que perdeu, da casinha humilde que comprou, com muito esforço, muita luta, lá na divisa de não sei onde. Fala do destino ou será um não destino, que fez dela uma faxineira com formação universitária. E por fim fala, mas fala com amargura, que a vida, essa que é tão apregoada pelos poetas, não tem sentido, ela não existe, pois não existem mais sonhos, hoje nada mais almejo.
Nesse momento tento alcançar sua criança interior, ninguém melhor que uma criança para sonhar. Mas isso é em vão, nada do que eu possa dizer nesse momento ira lhe devolver o sonho, ela queria falar, falou, essa sua necessidade foi satisfeita, e por fim abre um radiante sorriso, como querendo agradecer, se despede e vai.
Primeiras publicações:
paulinoalexandre.spaceblog.com.br : 04/06/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário