Era uma manhã ensolarada, dessas em que a vida nos convida a viver. Acordamos cedo, naquela manhã o café não era importante, importante era a magia que exalava de todos os lugares. Lembro que o Tigre parecia estar mais alegre, eu parecia estar mais alegre, meu irmão parecia estar mais alegre, meu pai parecia estar mais alegre, estávamos todos desfrutando da magia da vida.
Meu pai trajava uma bermuda na altura do joelho, dessas transmutadas, foi uma calça e virou uma bermuda após anos de labuta, uma camiseta, um boné, não me lembro se uma bota, se um tênis. Eu e meu irmão estávamos de shorts, camiseta, tênis com meia, foi improvisado uma cólera e nela uma corda para nosso Tigre, um cachorro puro sangue de vira-latas, que quando tomava banho ou chovia era branquinho como as nuvens do céu.
E partimos sem rumo pelas ruas do Jardim João XXIII, naquela época quase não haviam casas, as ruas eram de terra batida, quando andávamos levanta poeira, quando corríamos a poeira parecia querer nos encobrir. Sem rumo, duvido, nosso destino era certeiro, havia naquela época uma caixa d'água, em cima de um morrão, de longe parecia uma escada vermelha, seus degraus deviam ter um metro de altura com uns cinco de comprimento e deviam ser mais ou menos uns seis ou sete degraus (isso se minha memória não estiver variando). Hoje fico imaginando meu pai voltando da labuta, com seu taxi de frota, tinha que trabalhar para pagar a frota, depois as contas, não sobrava muito dinheiro, posso ver seu olhar naquele morro de terra vermelha, e o pensamento de brincar com seus meninos.
A lembrança da subida não me é tão clara, parece ter fugido nas entranhas de minha memória, mas lá de cima pareciamos réis, vendo nosso reinado, corremos atrás do Tigre já livre da corda, pulamos, rimos, como foi bom. Não me lembro de quem foi a idéia, mas começamos a descer aqueles degraus correndo, rolando, pulando, o Tigre não era mais perseguido, nos perseguia, eles os degraus não eram perfeitos, haviam rachaduras e vãos causados pela erosão, e isso tornou nossa brincadeira ainda mais divertida. No final do tido morrão, estávamos todos vermelhos de terra, parecia que a mãe Terra tinha participado de nosso momento.
Na volta nos sentíamos como esses heróis que são postos em cima de um caminhão de bombeiros, todos os apontam e falam de suas façanhas. Naquela manhã de domingo tínhamos escalado o morrão, no seu topo fomos reis, na descida heróis. Agora nos esperava impávido o chuveiro e o esfregão, que iria nos transformar em Meninos e Pai novamente.
Primeira publicação:
paulinoalexandre.spaceblog.com.br : 04/06/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário