sábado, 13 de julho de 2013

Lívia Marília

            Era quarta feira (17/11/2010), tinha acabado de chegar da rua, deviam ser 20:30, recebi uma ligação, era minha ex, me informando que iria precisar de um documento com endereço, para internar minha filha que deveria passar por uma cirurgia. A informação chega pela linha telefônica e cai como uma bomba em meu cérebro, ela diz que gostaria de buscar este documento na casa de minha mãe, minto, só tenho documentos aqui comigo (quem leva um documento talvez leve um passageiro, mesmo que incomodo). 

            Alguns minutos depois o telefone toca novamente, vão passar por ai para pegar o tal documento, e se quisesse poderia ir ver minha filha (bendito documento). 

      Quando chego ao hospital não desgrudo de minha pequena, ela me olha e diz - Pai não chora. Chorando eu quem está chorando (a quem estava tentando enganar, eles estavam meio úmidos). Mas em seguida nossa química começa a funcionar como sempre funcionou, e começamos a brincar, brincar e brincar. 

            Chega a hora, acompanhamos ela até a entrada do centro cirúrgico, deviam ser 1:30 da madrugada, a anestesista de forma recitada nos dá os procedimentos que serão adotados, de uma forma que me pareceu que eles já haviam sido ditos um cem números de vezes, mas o que me pareceu importante chegou a meus ouvidos; uma hora e meia, vocês poderão esperar no final do corredor, lá é mais arejado, mais confortável, mais, mais, mais, blá, blá, blá. 

            Lá no final do corredor, me pareceu uma distância grande para ficar longe de minha princesa, iria me sentir com estivesse do outro lado do mundo, como se estive no cume de uma dessas montanhas que são intransponíveis, aqui é fechado, pequeno, sem janelas, sem ventilação, mas é mais próximo dela, mesmo que não a veja, que ela não me veja. Fica aquela sensação de proximidade, mesmo que hajam paredes, portas e todo um protocolo, fico aqui. Se pudesse ficava do lado dela até que seus sentidos lhe escapassem. 

            Ela entra e em seguida aciono o cronometro do celular. Quinze minutos, trinta minutos, quarenta, quarenta e cinco. Não sei o que é pior se os tic tacs ou a falta deles. Mas a areia do tempo continua seu curso, e o tempo oprime o peito, as vias respiratórias minhas narinas. Faço um esforço colossal para manter minha calma. Sessenta minutos, ufa falta pouco, tento imaginar como ela deva estar. Deitada, ligada a uma parafernália tecnológica, que iria munir a equipe média de informações. Setenta minutos, setenta e cinco, o suor frio vai escorrendo pela face, os dedos se entrelaçam com os dedos da outra mão, e se apertam, chega doer um pouco. Os pulmões se enchem daquele ar já viciado, e lentamente eu os esvazio, uma, duas, três, perco a conta de quantas vezes fiz este procedimento. 

            Noventa minutos, parece que o coração vai diminuindo seu ritmo, as mão parecem oprimir menos os dedos, mas cadê, ninguém vai nos dizer que está tudo bem. Onde está o tal alguém, aquela pessoa, aquele anjo que iria nos dizer; está tubo bem.

            O tempo passa a contar novamente como se fosse um imenso pilão a socar, uma estaca que parece querer me cortar em dois. Duas horas, duas horas e cinco, duas horas e dez. duas horas e quinze. Minha ex abre uma pequena fresta pela porta, tento espiar de longe, veja uma sala que une outras várias outras, onde os procedimento cirúrgicos são realizados, e nada, nem uma única viva alma. Duas horas e vinte, duas horas e vinte e cinco, não escuto nada, mas ela diz ter ouvido um barulho de desfibrilador (aquelas máquinas de choque que são utilizadas, quando um coração para de bater). Não há mais espaço para a calma, minha vontade era de bater minha cabeça contra a parede, meu peito se enche de uma angustia que nunca havia sentido antes, um desespero que inunda minha alma, transborda pelas abas de meu corpo, sufoca, engolfa e engloba meu ser. Não consigo me sentar, ficar de pé incomoda, não há o que fazer, além de esperar, esperar, esperar... 

            Duras horas e meia, duas horas e trinta e cinco, duas horas e quarenta. Um senhor entra pela porta, diz algo, e adentra pelo tal de centro cirúrgico. Alguns minutos se passam e ele traz minha pequena, sonolenta mas bem. Ela já tinha sido operada, já havia terminada a mais de uma hora, e ela, estava dormindo em um canto inacessível para nos mortais não médicos, esperando o efeito da anestesia passar.

            Ela estava bem, e aquilo manda toda aquela angustia, todo aquele tormento lá para tal do fim do mundo. Um desses lugares que quando temos força mandamos nossas mazelas para lá. Umas quarenta horas depois minha pequena têm alta.

            Filha que Deus te abençoe, te amo, a você e a todos os meus filhos.

Primeiras publicações:
Primeiro Blog: 27/11/2010

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